terça-feira, 13 de abril de 2010

PIRRO I – SEGUNDO REINADO (297 – 272 a.C.) – PARTE III

Estátua de Pirro estilizado como Marte, o deus romano da guerra

Antecedentes da Guerra na Itália
Desde muito tempo havia várias cidades gregas na Sicília e no sul da Itália. Essa região era conhecida como Magna Grécia. A expansão de Roma sobre a Itália fez com que esta entrasse em choque inevitável com as cidades gregas do sul da península italiana. Na batalha de Sentinum (295), os romanos haviam derrotado os samnitas e os etruscos e assim começaram a unificar a Itália. Os romanos não estavam realmente interessados no extremo sul ainda, mas as circunstâncias políticas os levaram para a 'bota do Mediterrâneo". Abaixo, as cidades gregas da Magna Grécia.


Os lucanos, povo italiota helenizado, entraram em choque com algumas cidades gregas que apelaram aos romanos (285 a.C.). Estes ajudaram as cidades de Túrios contra os lucanos e Régio e Lócris contra os bútios, mas foram atacados pelos gregos de Tarento (282), que se ressentiram dessa intromissão romana na sua zona de influência. Quando o Senado enviou emissários para reclamar sobre este incidente, eles foram maltratados e a guerra foi declarada. Abaixo, a Itália antes às vésperas da intervenção de Pirro.Os habitantes de Tarento convidaram Pirro para ajudá-los contra os romanos oferecendo-lhe o comando das forças conjuntas. Pirro deixou claro aos embaixadores do sul da Itália que sua atuação na Itália se limitaria à campanha e não a algo maior. Mas, pelo que se sabe do célebre rei epirota e de seu investimento nessa guerra, certamente ele visava algo maior. Abaixo, moeda de Tarento com a efígie de seu epônimo, Taras. Possivelmente Pirro tinha a intenção de vingar a morte de Alexandre I, rei do Épiro que morreu na Itália (331 a.C.) em ajuda a Tarento. Aparecia-lhe a oportunidade de igualar-se a Alexandre, o Grande, através da construção de um império no Mediterrâneo ocidental, onde a rica Sicília era um alvo tentador. Ele poderia posar como o defensor da civilização grega, que o faria ganhar mais respeito na Grécia, ainda que os gregos considerassem os macedônios e os epirotas um pouco melhor do que bárbaros (povos não gregos). Mas o aspecto mais interessante foi ideológico: seria uma segunda Guerra de Troia. Roma alegava ter sido fundada por refugiados de Troia, liderados por Eneias; Pirro alegava ser descendente de Aquiles, o arqui-inimigo dos troianos. Um novo Aquiles luta contra uma nova Tróia. Abaixo, moeda romana retratando o mito fundamental da fundação de Roma: Rômulo e Remo alimentados por uma loba.Pirro foi encorajado a ajudar os tarentinos por influência do oráculo de Delfos bem como por incentivo de seus próprios comandantes. No entanto, Pirro não poderia deixar o Épiro sem se precaver de seus vizinhos belicosos. Estabeleceu acordos de paz com os ilírios e os etólios e casou-se com a filha de Ptolomeu Cerauno da Macedônia e alegando-se defensor da civilização helênica conseguiu o apoio financeiro e logístico de Antígono II Gônotas da Grécia e de Antíoco I Sóter da Ásia. Provavelmente, esses reis também o apoioaram para mantê-lo longe visto que o caráter bélico de Pirro sempre pairava como uma sombra de guerra sobre seus vizinhos. Abaixo, os estados helenísticos que apoiaram a Pirro.Em 280 Pirrro enviou seu embaixador Cíneas com algum efetivo e depois viajou pessoalmente para Tarento. Pirro deixou seu filho Ptolomeu, com cerca de 15 anos, como regente do Épiro e levou seus dois outros filhos Alexandre e Heleno. Pirro chegou à Itália com 20 elefantes de guerra, 3.000 cavaleiros, 2.000 arqueiros, 500 fundeiros, e 20.000 soldados. Esse grande efetivo indica que o objetivo de Pirro não era só defender Tarento dos romanos, mas subjugá-los. Ele contou ainda com a cidade que o tinha convidado bem como com as cidades de Metaponto e Heracleia. Pirro ordenou imediatamente aos tarentinos deixá-lo no comando de sua cidadela e os forçou-os a fazer exercícios militares. Abaixo, transporte dos elefantes de guerra.

A Batalha de Heracleia
Enquanto isso, os romanos tinham enviado o cônsul Públio Valério Levino para o sul. Seu exército era tão grande quanto o de Pirro, mas os romanos ainda não estavam familiarizados com o tipo de guerra que havia sido desenvolvido por Filipe II e Alexandre, o Grande,  da Macedônia. Devido à superioridade da sua cavalaria e dos seus elefantes, Pirro derrotou os romanos na Batalha de Heracleia. Segundo Pausânias, Pirro havia capturado seus elefantes na batalha com Demétrio. Quando na batalha de Heracleia os romanos viram os elefantes, entraram em pânico não acreditando que eles eram animais. Os romanos perderam cerca de 7.000 homens ao passo que Pirro perdeu 4.000. Pirro, no entanto, generosamente agiu depois da batalha, enterrando os corpos dos romanos da mesma forma como os dos seus próprios soldados e os prisioneiros foram tratados com bondade. Para comemorar esta vitória, Pirro escreveu uma dedicatória no oráculo de Zeus em Dodona. Abaixo, os elefantes de guerra atacando os romanos.


A Marcha de Pirro na Itália
Desde esta vitória, várias tribos e as cidades gregas de Cróton e Locros juntaram-se a Pirro. Este ofereceu aos romanos um tratado de paz, mas que foi rejeitado. A proposta de Pirro era que os romanos reconhecessem a independência das cidades gregas do sul da Itália, restaurasse os samnitas, lucanos, apúlios e brúcios a todas as suas possessões perdidas na guerra e que Roma deveria fazer as pazes com Pirro e com Tarento. Logo que o tratado de paz acordado nestes termos fosse confirmado, Pirro faria o retorno de todos os prisioneiros romanos sem resgate. Mas o acordo foi rejeitado. Abaixo, pintura de Cesare Macare retratando o senador Ápio Cláudio persuadindo o senado romano a rejeitar a proposta de Pirro. Cíneas, o eloquente embaixador de Pirro, foi expulso de Roma no mesmo dia. Por conseguinte, o rei decidiu continuar a guerra com vigor. Forçou uma marcha com destino a Roma saqueando as terras dos aliados dos romanos em seu caminho. Atrás dele estava o cônsul Levino, cujo exército foi reforçado com duas legiões recrutadas em Roma. Levino não combateu diretamente a Pirro, mas atrasou sua marcha até que o rei epirota chegou em Preneste (atual Palestrina), no Lácio, a 35 km de Roma. Abaixo, a marcha de Pirro até Preneste.Os batedores de Pirro chegaram até 9 km a leste da cidade. Mas sua marcha até Roma foi retardada. Neste momento foi informado que os romanos tinham feito paz com os etruscos e que o outro cônsul, Tibério Coruncanio, voltou com seu exército a Roma. Toda a esperança de se fazer a paz com Roma se foi e Pirro  decidiu retirar-se lentamente para a Campânia, ao sul. De lá, ele se retirou para seus alojamentos de inverno em Tarento e nenhuma outra batalha foi travada naquele ano (280 a.C.). Os romanos enviaram uma embaixada a Pirro encabeçada por Caio Luscino, a qual Pirro tratou com grande dignidade, mas não celebraram a paz. Os romanos visavam apenas troca ou resgate de prisioneiros. No entanto, Pirro, confiando na dignidade e honra dos romanos, permitiu que os prisioneiros fossem celebrar as festas Saturnálias em Roma e depois regressassem, o que de fato ocorreu. Abaixo, quadro de Ferdinand bol retratando o episódio descrito por Plutarco no qual um elefante assoa a tromba sobre a cabeça do legado romano Fabrício.

A Batalha de Ásculo
Quando Pirro invadiu a Apúlia (279 a.C.) os dois exércitos defrontaram-se na Batalha de Ásculo onde Pirro obteve uma vitória a muito custo. Os romanos perderam 6.000 homens e Pirro perdeu 3.500. Foi um duro golpe no exército de Pirro, que não aguentaria outro desfalque semelhante contra os romanos. Esta vitória não deu qualquer vantagem a Pirro que foi forçado a recuar para Tarento para passar o inverno sem grandes progressos. Por sua vitória em Ásculo, esse tipo de sucesso é chamado de uma vitória de Pirro ou vitória pírrica, onde o vencedor recebe um grande sucesso à custa de grandes danos. Se diz que após essa vitória Pirro teria dito: "Outra vitória como esta e estarei vencido!". Abaixo, ilustração da batalha de Áscalo.

Negociações e Oportunidades
Nesta batalha, como em Heracleia, a maior parte da ação recaiu praticamente sobre as tropas gregas do rei , e o estado em que se encontrava a Grécia após as invasões gaulesas do mesmo ano tornou impossível dos epirotas receberem reforços da Hélade. Então Pirro evitou arriscar a vida dos seus gregos sobreviventes em uma nova campanha contra romanos. A Grécia e a Macedônia também precisavam do apoio de Pirro ante a invasão dos gauleses que acabaram por matar a Ptolomeu Cerauno, rei da Macedônia e aliado de Pirro. Surgia assim a oportunidade de outra campanha: a reivindicação do trono da Macedônia. Porém, Pirro recebeu duas embaixadas de Siracusa. Depois de uma longa guerra civil entre Tenon e Sóstrato, a cidade estava indefesa contra uma possível invasão dos exércitos de Cartago, importante cidade fenícia na costa da África. Ambos adversários políticos procuraram o apoio de Pirro. Esta empresa parecia mais simples do que a da Itália, e tinha a atração da novidade, que sempre atraiu o inquieto rei do Épiro. Abaixo, mapa da Sicília no tempo de Pirro e suas cidades e origens étnicas. No entanto, antes era necessário suspender as hostilidades com os romanos, que também estavam ansiosos para se livrarem de um oponente formidável e completar a subjugação do sul da Itália sem interrupção. Uma vez que ambos os lados compartilharam de um desejo comum não foi difícil chegar a um acordo para acabar com a guerra. Isso ocorreu no início de 278 a. C. quando um dos médicos de Pirro, Nicias, desertou para as linhas romanas e propôs aos cônsules envenenar seu mestre. Os cônsules Fabrício e Emílio enviaram o desertor de volta ao seu rei dizendo que detestavam a idéia de conseguir uma vitória por traição. Para mostrar sua gratidão, Pirro enviou Cíneas a Roma com todos os prisioneiros romanos entregando-os sem resgate. Parece que Roma concedeu uma trégua a Pirro, mas não uma paz formal, pois o rei não concordou em abandonar a Itália. Seus planos se voltam para a Sicília.

REFERÊNCIAS:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pirro
http://es.wikipedia.org/wiki/Pirro_de_Epiro
Los héroes y las grandezas de la tierra: (1855) editado por Fernando Patxot Ferrer. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=gIXzPf_ZFpEC&dq=Sabilinto&source=gbs_navlinks_s
http://www.livius.org/ps-pz/pyrrhus/pyrrhus01.html
http://www.livius.org/ps-pz/pyrrhus/pyrrhus02.html
http://www.mlahanas.de/Greeks/Bios/PyrrhusÉpiro.html
http://www.satrapa1.com/articulos/antiguedad/pirro/Pirro1.htm#7
http://www.heritage-history.com/www/heritage.php?R_menu=OFF&Dir=characters&FileName=pyrrhus.php
http://www.mainlesson.com/display.php?author=guerber&book=romans&story=pyrrhus
http://es.wikipedia.org/wiki/Guerras_Pírricas

2 comentários:

  1. Parabéns ao organizador dessa pérola da história antiga dando ao leitor a verdadeira e vitoriosa história de PIRRO que legou para a posteridade a história da vitoria fracassada. "As vezes temos vitórias assim"- melhor não ter pelejado! Acontece...

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